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Em 2017, em todo o Brasil, já são 872 as cidades com reconhecimento federal de situação de emergência causada por um longo período de estiagem. A região mais afetada é a do Nordeste e o estado da Paraíba é o que concentra maior número de municípios, com 198 que comunicaram o problema à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec).
O professor Sérgio Koide, do Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), explica que o que deflagra o
processo da crise hídrica é o clima, mas a falta de planejamento faz
com que a margem de segurança entre a oferta e a demanda seja muito
pequena. “Com um bom planejamento e com investimentos, você consegue
fazer uma gestão mesmo em situações de certa escassez de recursos”,
explica. Para ele, o risco de insuficiência de água para o abastecimento
ocorre quando o planejamento não é cumprido, na medida que a oferta vai
se aproximando da demanda. “Neste caso, é preciso fazer um novo
planejamento, com antecedência, e adotar as medidas necessárias, como
investimentos em obras, para evitar a falta de abastecimento.”
O engenheiro explica que, no Distrito Federal, por exemplo, a
Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) sabia
desde o ano 2000 que “a partir de 2005 a demanda se aproximaria
perigosamente da oferta”. “De maneira geral, as pessoas que trabalham
com o planejamento conseguem antever quando vai começar a zona de risco,
mas como o planejamento é longo prazo e os investimentos são altos, nem
sempre eles são cumpridos.”
Com respectivamente 154 e 140 cidades em situação de emergência, os
estados do Rio Grande do Norte e Ceará, também sofrem sem água. Segundo a
meteorologista Morgana Almeida, chefe da previsão do tempo do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), esta situação é reflexo de um acúmulo
dos impactos causados pelo El Niño. “Temos que olhar para o retrovisor. O El Niño é
um fenômeno que acontece há cinco anos e atingiu seu ápice nos últimos
três, o que levou o semiárido nordestino a uma situação de seca
excepcional e isto impacta diretamente nos reservatórios que abastecem
as cidades da região.”
O estado do Ceará, por exemplo, vem enfrentando secas seguidas desde
2011, o que fez com que o volume de água armazenado esteja atualmente em
8,8% dos reservatórios, o menor em mais de vinte anos. Mesmo com uma
das situações mais críticas no Brasil, ainda não houve racionamento de
água no consumo da população cearense.
De acordo com o diretor de negócios do interior da Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (Cagece), Helder Cortez, a companhia e representantes
do estado e do governo federal se uniram para elaborar ações que
buscassem reverter o problema hídrico em cada um dos municípios. Como
resultado destas ações o estado conseguiu reduzir em média 21% o consumo
por ligação na Região Metropolitana de Fortaleza. Para Helder esse
resultado foi “fruto de uma campanha de comunicação e sensibilização da
sociedade”, mas não garante ainda o reabastecimento dos reservatórios.
“A recarga da região metropolitana de Fortaleza ainda está fraca. Se
continuarmos assim deveremos fazer um novo estudo e talvez chegar a um
contingenciamento mais severo.”
Na Bahia, desde o mês passado, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento
(Embasa) determinou o racionamento de água 13 municípios da região
Centro Norte do Estado, por causa da falta de chuvas. De acordo com a
Embasa, a Bahia está enfrentando “a pior seca dos últimos 100 anos”. O
racionamento atingiu as cidades de Jacobina, Pindobaçu Antonio
Gonçalves, Campo Formoso, Serrolândia, Várzea do Poço, Caldeirão Grande,
Ponto Novo, Filadélfia, Itiúba, Jaguarari, Andorinha e Senhor do
Bonfim. Além dos municípios do Centro Norte da Bahia, estão em situação
de alerta outros 81 municípios baianos.
Na Paraíba, o número de cidades com problemas de abastecimento de
água devido à estiagem aumentou 60% em um ano. Segundo dados da
Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), a quantidade de cidades
em racionamento eram 102 no ano passado e, agora, são 198.
Outra região também afetada pelos efeitos do El Niño é o Centro-Oeste. O Distrito Federal
decretou situação de emergência no fim de janeiro, quando sofreu
reduções significativas no reservatório da Barragem do Rio Descoberto e
atingiu o nível crítico abaixo de 20%. Diferente do estado do Ceará,
ainda em janeiro o DF iniciou um calendário de racionamento que
inicialmente atingiu 1,8 milhão de pessoas.
Com a estiagem e a diminuição do nível do segundo maior reservatório
da região, o de Santa Maria, a região central de Brasília, o Plano
Piloto, também foi incluído no racionamento, ficando de fora apenas a Esplanada dos Ministérios e os hospitais públicos.
Não é de hoje que o mundo chama a atenção para a importância da
gestão racional da água, o debate é antigo e vem sendo reforçado ao
longo da história com marcos como o Dia Mundial da Água, decretado em
1992, pela Organização das Nações Unidas, ou o Ano Internacional de
Cooperação pela Água, que em 2013 foi dedicado pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para reflexão sobre
o tema.
No entanto, mesmo com tantos reforços para lembrar sobre a
importância dos recursos hídricos do planeta, as pessoas ainda não
aprenderam a gerir de forma adequada a água. No Brasil, algumas cidades
já percebem este impacto em seus cotidianos, a história continuará se
repetindo se não houver mais conscientização. Este ano regiões Nordeste e
Centro-Oeste são as mais afetadas, mas há um ano São Paulo, por exemplo superou a maior crise hídrica de sua história, que teve início em janeiro de 2014.
Com Agência Brasil
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