Duas rotas de envio de travestis da Paraíba para esquemas de tráfico de
pessoas e trabalho escravo para o exterior estão sob a mira da Polícia
Federal (PF) e do Ministério Público do Trabalho (MPT). O procurador
Eduardo Varanda explicou que as travestis se tornam alvo fácil dado à
dificuldade de conseguirem se inserir no mercado de trabalho e a
homofobia. Estes são alguns dos temas que gestores públicos,
pesquisadores e sociedade civil devem debater a partir de terça-feira
(11) durante o '1º Seminário Internacional da Diversidade Sexual –
Cidadania e Direitos', em João Pessoa.
Foto: Reprodução / TV Cabo Branco |
Eduardo Varandas explicou que as duas investigações estão em curso há
mais de um ano. Uma delas se refere ao envio de travestis para países da
América Latina. Uma outra, realizada pelo MPT e PF, tem como base os
indícios de envio de travestis para a Europa. Os detalhes, por enquanto,
Varandas disse não poder adiantar para não atrapalhar as investigações.
No entanto, os dois casos são similares na forma de cooptar em cidades
de interior travestis que têm o sonho de ganhar dinheiro fora do país e
na prática de trabalho escravo quando chegam no exterior. Um exemplo é a
rota Araçagi-Baía da Traição, desbaratada pela polícia. “Nós ajuizamos a
ação na Justiça dessa rota que enviava travestis para a Itália. Pedimos
o bloqueio dos bens dos envolvidos e a Justiça deferiu”, frisou. Doze
pessoas, entre brasileiros e italianos, foram presos.
Um dado que explica a existência dessas rotas, segundo Eduardo
Varandas, é a falta de oportunidades para travestis no Brasil. “Para as
travestis que assumem a identidade de gênero do sexo oposto ao
biológico, o mercado se fecha completamente. Por isso, a prostituição e
trabalhos ditos femininos, como os de estética, são as únicas opções”,
afirmou.
Da última rota descoberta, por ter enviado em torno de 40 travestis
para a Itália, a maior surpresa de todo o processo, segundo o promotor,
foi a recusa das envolvidas em voltar para o Brasil por entenderam que
as condições de trabalho escravo na Europa se assemelhavam às de
discriminação e exclusão no Brasil. “A maioria das travestis não quis
voltar porque disseram que aqui no Brasil enfrentam condições tão
escravas quanto no exterior, onde elas não têm liberdade. É preciso
assegurar a essas pessoas liberdade plena. Para o Brasil combater o
tráfico de pessoas é preciso ter políticas públicas de inclusão”,
afirmou.
Homofobia no ambiente de trabalho
Não há nenhuma pesquisa realizada no Brasil em nenhuma das três esferas governamentais sobre a homofobia no ambiente de trabalho, o que, para o procurador do Trabalho Eduardo Varandas, demonstraria a dificuldade da sociedade em lidar com a homossexualidade.
Não há nenhuma pesquisa realizada no Brasil em nenhuma das três esferas governamentais sobre a homofobia no ambiente de trabalho, o que, para o procurador do Trabalho Eduardo Varandas, demonstraria a dificuldade da sociedade em lidar com a homossexualidade.
A partir de terça-feira e durante três dias, a sociedade civil
organizada, pesquisadores, representantes das entidades LGBT e gestores
públicos vão discutir as questões relacionadas à homofobia e o
cerceamento de direitos que a discriminação tem provocado no Brasil. O
1ª Seminário Internacional da Diversidade Sexual é uma iniciativa do
Ministério Público do Trabalho (MPT-PB) com o Movimento do Espírito
Lilás e vai acontecer no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, no bairro de
Tambauzinho, em João Pessoa.
Eduardo Varandas reforçou que o papel do agente público é essencial no
combate à homofobia. "Entendemos que é dever do Ministério Público do
Trabalho combater qualquer tipo de discriminação no ambiente de
trabalho, seja ela qual for, porque a nossa constituição tem como
princípio a dignidade do ser humano e a não discriminação. E em nenhum
momento ela coloca pessoas em condições superiores às outras", afirmou.
Para ele, o único item discriminador aceitável no ambiente de trabalho é
o da qualificação profissional do indivíduo. "O que for exigido além da
capacidade e qualificação profissional, viola literalmente a
Constituição Federal", disse.
Uma das dificuldades do Ministério Público do Trabalho (MPT-PN) em
identificar a homofobia nos casos de discriminação no ambiente de
trabalho se deve à discriminação velada. “É muito fácil atribuir uma
possível discriminação com questões atribuídas à qualificação
profissional e a grande arma de combate a esse tipo de discriminação tem
sido as campanhas de conscientização”, frisou.
Com Wagner Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário