Captada por microfones, uma declaração do presidente
Jair Bolsonaro
nesta sexta-feira provocou reações dos governadores do Maranhão,
Flávio Dino
(PCdoB), e da Paraíba,
João Azevêdo
(PSB). Bolsonaro conversava informalmente com o ministro da Casa Civil,
Onyx Lorenzoni, segundos antes do início de entrevista coletiva a
correspondentes de veículos de imprensa estrangeiros durante café da
manhã, quando declarou:
— Daqueles governadores de... "paraíba", o pior é o do Maranhão. Não tem
que ter nada com esse cara — disse o presidente para o ministro. Pelo
áudio da transmissão — distribuída pela TV Brasil, que pertence ao
governo federal — não é possível saber o contexto da conversa. Procurada
pela reportagem, o Palácio do Planalto informou que não vai comentar o
episódio.
Quando Bolsonaro citava "um picareta" e um "ex-deputado", a fala foi
interrompida pelo porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, que
fez uma saudação aos correspondentes estrangeiros que participaram do
encontro.
Pelo Twitter, Flávio Dino escreveu que, "independentemente de suas
opiniões pessoais, o presidente da República não pode determinar
perseguição contra um ente da Federação". "Seja o Maranhão ou a Paraíba
ou qualquer outro Estado. 'Não tem que ter nada para esse cara' é uma
orientação administrativa gravemente ilegal", argumentou.
Ex-juiz federal, Dino disse que, por conhecer a Constituição e as leis
brasileiras, continuará a "dialogar respeitosamente com as autoridades
do governo federal e a colaborar administrativamente no que for
possível". E fez referência ao artigo 37 da Carta Magna, que estabelece
princípios da administração pública para dizer que respeita os
princípios da legalidade e impessoalidade.
Já João Azevêdo comentou as declarações de Bolsonaro dizendo que condena
"toda e qualquer postura que venha ferir os princípios básicos da
unidade federativa e as relações institucionais deles decorrentes".
"A Paraíba e seu povo, assim como o Maranhão e os demais estados
brasileiros, existem e precisam da atenção do Governo Federal
independentemente das diferenças políticas existentes. Estaremos, neste
sentido, sempre dispostos a manter as bases das relações institucionais
junto aos entes federativos, vigilantes à garantia de tudo aquilo a que
tem direito. Pelo seu povo. E pela sua história", escreveu o governador
da Paraíba, em dois tuítes.
Em nota, os governadores do Nordeste dizem que recebem "com espanto e
profunda indignação", "em respeito à Constituição e à democracia",
buscam manter produtiva relação institucional com o Governo Federal.
"Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio
federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a
fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre
melhorar a vida da população. Recebemos com espanto e profunda
indignação a declaração do presidente da República transmitindo
orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a
imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da
presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da
democracia", dizem em carta aberta.
Em 200 dias de governo, Bolsonaro ainda não visitou os dois estados. No
Nordeste, foi apenas a Pernambuco — para o Recife e Petrolina, no mesmo
dia, no fim da maio. Na próxima terça-feira, o presidente deve fazer a
segunda incursão à região como presidente para inaugurar um aeroporto em
Vitória da Conquista, no interior da Bahia, a convite do governador Rui
Costa (PT).
Por O Globo
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